PAPAI TEM COISAS PRA FAZER >>> NÁDIA COLDEBELLA
A menininha entrou na sala da psicóloga. Tinha oito anos. Era tão franzina que parecia comer apenas uma vez por dia - a psicóloga, com pena, deixava uns pacotes de bolachas e doces num balcão perto da porta e a criança os "roubava", feliz, quando saía. Seu aspecto era sempre sujo e, às vezes, o cheiro ruim da falta de higiene inundava a sala. O cabelo negro era opaco pela falta de lavagem e os piolhos andavam satisfeitos, em meio àquela selva ondulada. Ela fora encaminhada para ser avaliada junto ao Sistema de Justiça. Suspeita de abuso sexual. A psicóloga, bastante experiente nesse tipo de avaliação, reconhecera os sinais evidentes, mas a criança fechara-se hermeticamente até ali. E sem uma palavra sua, era impossível pôr fim ao sofrimento. Nas três sessões anteriores, ela havia comparecido acompanhada da avó e do avodrasto - era como ela se referia ao marido da avó. A psicóloga não gostara de nenhum dos dois. A avó parecia de uma passividade absurda. O avodrasto causava arr...